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sábado, 19 de julho de 2008

A trajetória de quem se prestou a ser diferente

* Dercy é uma época e tanto. De História. Aliás, um século e mais um ano. De vida. Marcada pela atuação de quem nunca precisava de texto para arrancar o riso de todos. Escrachada, é o menos que se pode dizer dela ao longo da trajetória de quem se prestou a ser diferente.

* Para os que nasceram no seu tempo - e uma multidão enorme já alcançou a outra margem do rio -, a passagem de Dercy deve ter sido cercada de preconceito (e foi!). Ela deva ter sido hostilizada pela irreverência com que se portou no mundo (e foi!). Mas, apesar dessa postura considerada por alguns como 'imoral', ela conseguiu imprimir uma aura de respeito - mesmo à contragosto de algum tanto de gente.

* É que Dercy era motivo de riso até quando não atuava. Ela era humorista as 14 horas do dia. Divertiu meio mundo. Fez este País ser menos sisudo ao longo de quantos janeiros na vida profissional? E esse seu humor ajudou a atravessar guerras, distenções políticas, noivados, casamentos e separações. Ela permaneceu incólume a sua irreverência.

* O humor de Dercy acompanhou a ascensão e a queda de tantos ditadores - um deles, Getúlio Vargas, provavelmente, admirador de seu talento. E conseguiu superar tantos modismos. Ela, porém, continuou sempre em voga.

* No cinema, Dercy fez carreira ao longo de chanchadas onde ao talento de comediante, juntou-se a inimaginável trajetória de apresentadora de TV ao vivo. Dá pra alguém imaginá-la hoje em dia fazendo programa de auditório? Pouca gente dessa nova geração sabe que ela foi uma das audiências marcantes da Rede Globo em seu início.

* Mas foi depois dos 80 que essa mulher mais marcou a vida do showbiz brasileiro. Falando de tudo e sobre todos, nunca se rendeu à oportunidade de escrachar, de corar pessoas, de espezinhar autoridades, de ser liberalmente livre e dizer o que pensava.

* Dercy é uma história completa do Teatro, do Cinema e, principalmente, do Humor. Esta noite, em todos os locais de atuação de gente que a amou (ou não!), todos renderão homenagem a essa mulher tão lúcida (até os últimos momentos de sua aparição em público) e que nada tirou da gente. A não ser, ensinar a quebrar tabus e preconceitos.

* A derrubar por terra, o verniz de nossa moral tão restritiva à magnífica loucura daqueles que se prestam a ser diferentes. E ela, certamente, o foi.

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